Split Payment na Reforma Tributária: o que é, como funciona e por que muda todo o jogo para as empresas
- Patrick Pelucio
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1. O que é o Split Payment — em palavras simples
O split payment, que pode ser traduzido como pagamento fracionado ou dividido, é um novo modelo de recolhimento automático de impostos que será introduzido com a reforma tributária de 2026, junto com os novos tributos IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) e CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços).
Hoje, o processo funciona assim:
A empresa emite uma nota fiscal;
O cliente paga o valor total;
O dinheiro entra no caixa da empresa;
Depois, o contador apura o imposto e faz o recolhimento, dias ou semanas depois.
No modelo de split payment, isso muda completamente:
O cliente paga o valor total da nota;
O sistema (banco, instituição de pagamento ou ERP) divide automaticamente o valor;
A parte referente ao imposto vai direto para o governo;
E apenas o valor líquido (sem impostos) chega à conta da empresa.
Em outras palavras: o imposto é pago no mesmo momento em que o cliente faz o pagamento da venda.Não passa mais pelo caixa da empresa — o Fisco recebe na origem.
2. Como isso vai funcionar na prática
Para ilustrar, imagine o seguinte exemplo:
Sua empresa vende R$ 100.000 em produtos;
A alíquota total de IBS + CBS é de 25% (hipotético);
O cliente faz o pagamento via banco, cartão ou PIX;
No momento da liquidação, o sistema separa R$ 25.000 (imposto) e envia diretamente ao Fisco;
A empresa recebe R$ 75.000 líquidos, sem precisar recolher o tributo depois.
O controle será feito por meio das notas fiscais eletrônicas (NF-e), que trarão os campos de IBS e CBS. O pagamento e o recolhimento serão sincronizados em tempo real — tudo automatizado, fiscalizado e registrado digitalmente.
3. Por que o governo quer implantar o Split Payment
O objetivo declarado é reduzir a sonegação e a inadimplência tributária, garantindo que o imposto seja recolhido no ato da operação.Atualmente, o governo arrecada após o fato gerador, e depende da boa-fé e da estrutura contábil das empresas. Com o split payment, o Estado passa a arrecadar durante o fato gerador, diminuindo risco e burocracia fiscal.
Mas, na prática, isso também transfere parte do ônus financeiro e operacional para as empresas. A arrecadação se torna mais previsível para o governo, e menos flexível para o contribuinte.
4. O impacto real para as empresas e executivos
Fluxo de caixa
O maior impacto está no capital de giro.Hoje, muitas empresas utilizam o intervalo entre o recebimento e o pagamento dos tributos como fôlego financeiro temporário. Com o split payment, esse “colchão de liquidez” desaparece.O dinheiro entra já líquido, o que reduz o caixa disponível e exige uma gestão de tesouraria mais precisa e preditiva.
Mudança operacional
Sistemas de faturamento, ERP, bancos e meios de pagamento precisarão ser reconfigurados para executar o recolhimento automático. Será necessário garantir que cada nota fiscal esteja corretamente parametrizada com as novas alíquotas de IBS e CBS — qualquer erro pode bloquear o recebimento ou gerar glosa de crédito fiscal.
Compliance e controle
O split payment praticamente elimina a possibilidade de atrasar tributos, mas aumenta a responsabilidade de parametrização e rastreabilidade.Os controles internos precisarão estar no padrão SOX (Sarbanes-Oxley), com logs, conciliações e segregação de funções.
Relacionamento bancário e com o cliente
Como o repasse dos tributos pode ocorrer por meio das instituições financeiras, os bancos passam a ser parte ativa do processo tributário.Será necessário revisar contratos, formas de recebimento, gateways de pagamento e meios eletrônicos (PIX, cartão, boleto).
5. O que o CFO, o presidente e o conselho precisam saber
Não é apenas uma mudança fiscal — é uma mudança de modelo de negócio.O split payment altera a forma como o caixa é formado e administrado.
Empresas com alto volume de transações e margens apertadas (varejo, e-commerce, serviços) serão as mais impactadas.
Empresas com estrutura de compliance madura (ERP robusto, contabilidade integrada e controle de créditos fiscais) terão vantagem competitiva.
A fase de transição começa em 2025, com obrigatoriedade gradativa até 2026/2027, de acordo com o avanço da CBS e do IBS.
6. Como se preparar desde já (checklist executivo)
7. Comparativo: modelo atual x modelo com Split Payment
8. Cenário internacional — o que o Brasil está copiando
O split payment não é invenção brasileira. Modelos semelhantes já existem na Itália, Polônia, Romênia e Reino Unido, aplicados ao IVA (Imposto sobre Valor Agregado).Em todos esses países, os resultados foram parecidos:
Redução da sonegação;
Aumento da transparência fiscal;
Maior complexidade operacional para as empresas;
Necessidade de adaptação tecnológica.
Na Itália, o split payment é obrigatório para transações com o setor público. Na Polônia, foi estendido para setores de risco e só recentemente começou a ser flexibilizado.
O Brasil está indo pelo mesmo caminho, mas em escala muito maior — abrangendo todo o consumo interno, o que tornará o sistema inédito em volume e complexidade.
9. Minha análise — o custo da eficiência
O split payment traz benefícios macroeconômicos e desafios microeconômicos. Para o Estado, é eficiência e arrecadação.Para a empresa, é controle, mas também perda de autonomia financeira.
Como consultor e empresário, entendo que a discussão central não é se o modelo é “bom” ou “ruim”, mas como transformar essa obrigatoriedade em oportunidade de governança. Empresas que fizerem um planejamento antecipado — integrando contabilidade, TI e tesouraria — conseguirão operar com transparência, previsibilidade e credibilidade.
As que ignorarem o tema, vão descobrir da pior forma: quando a nota for rejeitada ou o caixa não fechar.
10. Conclusão — o novo papel do executivo na era do Split Payment
O split payment é a materialização do “Estado digital”. A fiscalização deixa de ser manual e passa a ser automática e em tempo real.Para o empresário, o contador e o CFO, isso significa fim da improvisação: cada venda, cada nota e cada pagamento precisarão estar 100% consistentes.
O líder que entender isso cedo vai transformar o tributo em estratégia. E em 2026, quando o sistema estiver em vigor, serão poucos os que poderão dizer que estavam prontos — e, entre eles, estarão os que planejaram antes.




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