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Split Payment na Reforma Tributária: o que é, como funciona e por que muda todo o jogo para as empresas

  • Patrick Pelucio
  • 34false26 GMT+0000 (Coordinated Universal Time)
  • 5 min de leitura
Split Payment: o imposto pago antes do dinheiro entrar na sua conta

1. O que é o Split Payment — em palavras simples


O split payment, que pode ser traduzido como pagamento fracionado ou dividido, é um novo modelo de recolhimento automático de impostos que será introduzido com a reforma tributária de 2026, junto com os novos tributos IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) e CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços).


Hoje, o processo funciona assim:


  • A empresa emite uma nota fiscal;

  • O cliente paga o valor total;

  • O dinheiro entra no caixa da empresa;

  • Depois, o contador apura o imposto e faz o recolhimento, dias ou semanas depois.


No modelo de split payment, isso muda completamente:


  • O cliente paga o valor total da nota;

  • O sistema (banco, instituição de pagamento ou ERP) divide automaticamente o valor;

  • A parte referente ao imposto vai direto para o governo;

  • E apenas o valor líquido (sem impostos) chega à conta da empresa.


Em outras palavras: o imposto é pago no mesmo momento em que o cliente faz o pagamento da venda.Não passa mais pelo caixa da empresa — o Fisco recebe na origem.



2. Como isso vai funcionar na prática


Para ilustrar, imagine o seguinte exemplo:


  • Sua empresa vende R$ 100.000 em produtos;

  • A alíquota total de IBS + CBS é de 25% (hipotético);

  • O cliente faz o pagamento via banco, cartão ou PIX;

  • No momento da liquidação, o sistema separa R$ 25.000 (imposto) e envia diretamente ao Fisco;

  • A empresa recebe R$ 75.000 líquidos, sem precisar recolher o tributo depois.


O controle será feito por meio das notas fiscais eletrônicas (NF-e), que trarão os campos de IBS e CBS. O pagamento e o recolhimento serão sincronizados em tempo real — tudo automatizado, fiscalizado e registrado digitalmente.



3. Por que o governo quer implantar o Split Payment


O objetivo declarado é reduzir a sonegação e a inadimplência tributária, garantindo que o imposto seja recolhido no ato da operação.Atualmente, o governo arrecada após o fato gerador, e depende da boa-fé e da estrutura contábil das empresas. Com o split payment, o Estado passa a arrecadar durante o fato gerador, diminuindo risco e burocracia fiscal.


Mas, na prática, isso também transfere parte do ônus financeiro e operacional para as empresas. A arrecadação se torna mais previsível para o governo, e menos flexível para o contribuinte.



4. O impacto real para as empresas e executivos


Fluxo de caixa


O maior impacto está no capital de giro.Hoje, muitas empresas utilizam o intervalo entre o recebimento e o pagamento dos tributos como fôlego financeiro temporário. Com o split payment, esse “colchão de liquidez” desaparece.O dinheiro entra já líquido, o que reduz o caixa disponível e exige uma gestão de tesouraria mais precisa e preditiva.


Mudança operacional


Sistemas de faturamento, ERP, bancos e meios de pagamento precisarão ser reconfigurados para executar o recolhimento automático. Será necessário garantir que cada nota fiscal esteja corretamente parametrizada com as novas alíquotas de IBS e CBS — qualquer erro pode bloquear o recebimento ou gerar glosa de crédito fiscal.


Compliance e controle


O split payment praticamente elimina a possibilidade de atrasar tributos, mas aumenta a responsabilidade de parametrização e rastreabilidade.Os controles internos precisarão estar no padrão SOX (Sarbanes-Oxley), com logs, conciliações e segregação de funções.


Relacionamento bancário e com o cliente


Como o repasse dos tributos pode ocorrer por meio das instituições financeiras, os bancos passam a ser parte ativa do processo tributário.Será necessário revisar contratos, formas de recebimento, gateways de pagamento e meios eletrônicos (PIX, cartão, boleto).



5. O que o CFO, o presidente e o conselho precisam saber


  1. Não é apenas uma mudança fiscal — é uma mudança de modelo de negócio.O split payment altera a forma como o caixa é formado e administrado.

  2. Empresas com alto volume de transações e margens apertadas (varejo, e-commerce, serviços) serão as mais impactadas.

  3. Empresas com estrutura de compliance madura (ERP robusto, contabilidade integrada e controle de créditos fiscais) terão vantagem competitiva.

  4. A fase de transição começa em 2025, com obrigatoriedade gradativa até 2026/2027, de acordo com o avanço da CBS e do IBS.



6. Como se preparar desde já (checklist executivo)

Etapa

Ação recomendada

Responsável

1. Diagnóstico

Mapear os impactos do split payment nos fluxos financeiros e sistemas.

CFO / Controller

2. ERP e TI

Garantir que o sistema contábil e de faturamento possa segregar e enviar automaticamente valores ao Fisco.

TI / Fiscal

3. Compliance e jurídico

Revisar contratos comerciais e cláusulas de pagamento.

Jurídico

4. Tesouraria

Simular redução de caixa e ajustar capital de giro.

Financeiro

5. Treinamento

Preparar equipes de vendas, contabilidade e finanças.

RH / Compliance

6. Governança

Incluir o tema nas reuniões de diretoria e comitês de auditoria.

Conselho / CFO


7. Comparativo: modelo atual x modelo com Split Payment

Aspecto

Modelo Atual

Com Split Payment

Recolhimento do imposto

Após o faturamento

No momento do pagamento

Controle do caixa

Empresa recebe o total e recolhe depois

Empresa recebe valor líquido

Risco de inadimplência fiscal

Alto

Quase zero

Gestão de liquidez

Flexível

Mais restrita

Burocracia contábil

Alta (diversos prazos e guias)

Automação e integração total

Fiscalização

Posterior

Instantânea / digital

Necessidade tecnológica

Média

Alta (ERP, bancos, APIs, NF-e)


8. Cenário internacional — o que o Brasil está copiando


O split payment não é invenção brasileira. Modelos semelhantes já existem na Itália, Polônia, Romênia e Reino Unido, aplicados ao IVA (Imposto sobre Valor Agregado).Em todos esses países, os resultados foram parecidos:


  • Redução da sonegação;

  • Aumento da transparência fiscal;

  • Maior complexidade operacional para as empresas;

  • Necessidade de adaptação tecnológica.


Na Itália, o split payment é obrigatório para transações com o setor público. Na Polônia, foi estendido para setores de risco e só recentemente começou a ser flexibilizado.


O Brasil está indo pelo mesmo caminho, mas em escala muito maior — abrangendo todo o consumo interno, o que tornará o sistema inédito em volume e complexidade.



9. Minha análise — o custo da eficiência


O split payment traz benefícios macroeconômicos e desafios microeconômicos. Para o Estado, é eficiência e arrecadação.Para a empresa, é controle, mas também perda de autonomia financeira.


Como consultor e empresário, entendo que a discussão central não é se o modelo é “bom” ou “ruim”, mas como transformar essa obrigatoriedade em oportunidade de governança. Empresas que fizerem um planejamento antecipado — integrando contabilidade, TI e tesouraria — conseguirão operar com transparência, previsibilidade e credibilidade.


As que ignorarem o tema, vão descobrir da pior forma: quando a nota for rejeitada ou o caixa não fechar.



10. Conclusão — o novo papel do executivo na era do Split Payment


O split payment é a materialização do “Estado digital”. A fiscalização deixa de ser manual e passa a ser automática e em tempo real.Para o empresário, o contador e o CFO, isso significa fim da improvisação: cada venda, cada nota e cada pagamento precisarão estar 100% consistentes.


O líder que entender isso cedo vai transformar o tributo em estratégia. E em 2026, quando o sistema estiver em vigor, serão poucos os que poderão dizer que estavam prontos — e, entre eles, estarão os que planejaram antes.

 
 
 

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