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Simples Nacional na Reforma Tributária (IBS/CBS): opções, créditos, prazos e o que fazer agora

  • Patrick Pelucio
  • há 2 dias
  • 6 min de leitura

Como pequenos negócios e compradores devem se preparar para o novo sistema de tributos sobre consumo


Simples Nacional e Reforma Tributária: a decisão que vai definir sua competitividade em 2026

1. Introdução


A Reforma Tributária aprovada pela Emenda Constitucional 132/2023 é o maior redesenho do sistema tributário brasileiro em mais de 50 anos. Ela substitui o modelo atual de tributos sobre o consumo — complexo, fragmentado e burocrático — por um sistema moderno de Imposto sobre Valor Adicionado (IVA), dividido em dois novos tributos: IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) e CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços).


O objetivo é simplificar a apuração, reduzir litígios e aumentar a transparência.Mas, na prática, o impacto será enorme, inclusive para as micro e pequenas empresas do Simples Nacional.


A pergunta que todo empreendedor deve se fazer agora é:


“O Simples Nacional vai continuar existindo? E como eu, que vendo ou compro de quem está no Simples, devo me preparar?”

A resposta é: sim, o Simples continua, mas o modo de participar do novo sistema muda — e exige decisão estratégica sobre o recolhimento do IBS e da CBS.



2. Entendendo o IBS e a CBS


Antes de falar do Simples, é importante compreender os dois novos tributos:

Tributo

Significado

Substitui

Competência

Tipo

IBS

Imposto sobre Bens e Serviços

ICMS (estadual) + ISS (municipal)

Estados e Municípios

IVA subnacional

CBS

Contribuição sobre Bens e Serviços

PIS + Cofins + parte do IPI

União

IVA federal

Ambos incidem sobre bens e serviços, de forma não cumulativa, ou seja, permitem crédito de impostos pagos nas etapas anteriores da cadeia. Na prática, cada venda gera crédito para quem compra e débito para quem vende — o que exige integração de notas fiscais e sistemas contábeis.



3. O Simples Nacional no novo cenário


O Simples Nacional não será extinto.Ele continua sendo um regime diferenciado para micro e pequenas empresas (até R$ 4,8 milhões de faturamento anual). Porém, sua interação com o novo IVA muda completamente.


A reforma prevê que o Simples tenha duas formas de recolhimento do IBS e da CBS:


  1. “Por dentro” do DAS — o IBS e a CBS continuam embutidos no valor unificado do Simples;

  2. “Por fora” — o IBS e a CBS são apurados e recolhidos separadamente, como no regime normal, mas sem que a empresa precise sair do Simples para os demais tributos.


Essa escolha é opcional, mas estratégica.Ela definirá se o cliente do Simples poderá aproveitar créditos de IBS e CBS — o que influencia diretamente a competitividade da empresa no mercado B2B.



4. As duas opções explicadas


A) Recolhimento “por dentro” (no DAS)


  • IBS e CBS ficam dentro do Simples, sem destaque na nota fiscal;

  • A empresa mantém t oda a simplicidade do regime: um DAS, uma guia;

  • Não gera crédito de IBS/CBS para o comprador (porque o tributo não está explicitado).

  • Ideal para quem vende ao consumidor final (B2C).


Exemplo: uma loja de roupas que vende direto ao público não precisa destacar IBS/CBS — seu cliente não se creditaria mesmo.



B) Recolhimento “por fora” (fora do DAS, mas dentro do Simples)


  • IBS e CBS são calculados e destacados na nota fiscal;

  • O comprador pode aproveitar crédito integral desses tributos;

  • A empresa continua no Simples para os demais tributos (IRPJ, CSLL, CPP, etc.);

  • Exige sistema fiscal atualizado (ERP, NF-e, cadastro e conciliações).

  • Ideal para quem vende para outras empresas (B2B).



Exemplo: uma gráfica do Simples que fornece embalagens para uma indústria. Se ela vender “por fora”, o cliente poderá tomar crédito do IBS e CBS e manter a cadeia de créditos equilibrada.



5. Diferença prática entre “por dentro” e “por fora”

Situação

Por Dentro (DAS)

Por Fora (Regime Normal do IVA)

Quem recolhe IBS/CBS

Dentro do Simples (DAS)

Diretamente à Receita / CG-IBS

Crédito para o cliente

Não há

Sim, crédito integral

Complexidade

Baixa

Média/alta

Perfil ideal

Vendas B2C

Vendas B2B

Competitividade no atacado

Menor

Maior

Custo de compliance

Menor

Maior (ERP, conciliação)


Resumo prático:


  • “Por dentro” = simplicidade operacional, mas sem crédito na cadeia.

  • “Por fora” = competitividade fiscal, mas maior controle e tecnologia.




6. Crédito de IBS e CBS nas compras do Simples


Com o novo modelo, empresas que compram de fornecedores do Simples terão dois cenários possíveis:


  1. Fornecedor “por dentro” → sem crédito;

  2. Fornecedor “por fora” → crédito integral (desde que o imposto esteja destacado corretamente).


Esse ponto é crucial para CFOs e compradores:


  • Empresas do Lucro Real e Presumido poderão preferir fornecedores do Simples “por fora”, porque isso reduz o custo efetivo da compra.

  • Já as empresas do Simples que permanecerem “por dentro” precisarão ajustar preços para continuar competitivas.



7. Cronograma oficial (vigência e transição)

Ano

Etapa

O que acontece

2026

Ano de teste

IBS e CBS começam com alíquotas simbólicas (0,9% + 0,1%) apenas para calibragem de sistemas.

2027

Imposto Seletivo (IS)

Entra em vigor para produtos específicos (energia, fumo, bebidas, etc.).

2026–2033

Transição gradual

IBS e CBS sobem gradualmente enquanto ICMS, ISS, PIS e Cofins diminuem.

2033

Sistema completo

IBS e CBS substituem integralmente os tributos atuais sobre consumo.

Importante: a empresa pode decidir anualmente entre recolher IBS/CBS por dentro ou por fora do Simples.



8. Exemplos práticos


Exemplo 1 — Venda B2C (por dentro)


  • Loja de cosméticos no Simples vende R$ 10.000.

  • IBS/CBS embutidos no DAS.

  • Cliente é consumidor final → não toma crédito.➡️ Solução ideal: por dentro (menos burocracia, mesmo efeito tributário).


Exemplo 2 — Venda B2B (por fora)


  • Indústria compra de fornecedor do Simples.

  • Produto: R$ 100.000 + 26,5% IBS/CBS = R$ 126.500.

  • Cliente toma crédito de R$ 26.500.➡️ Resultado: custo líquido para o cliente continua R$ 100.000.➡️ Vantagem: fornecedor do Simples mantém competitividade, mesmo com IVA.



9. Passos para se preparar


Para quem É DO SIMPLES:


  1. Mapeie seu público-alvo (B2C ou B2B).

  2. Escolha a opção “por dentro” ou “por fora” com base nisso.

  3. Atualize o ERP e NF-e para incluir campos de IBS e CBS.

  4. Treine o time (vendas, contabilidade e faturamento).

  5. Planeje o caixa, pois IBS/CBS destacados reduzem momentaneamente liquidez.

  6. Simule o impacto tributário antes da virada de 2026.


Para quem COMPRA DO SIMPLES:


  1. Classifique fornecedores: quem será “por dentro” ou “por fora”.

  2. Negocie preço e cláusulas contratuais (garantia de crédito).

  3. Adapte o ERP para captar créditos de IBS/CBS automaticamente.

  4. Revise o fluxo de caixa e provisões com base no novo crédito.

  5. Audite notas fiscais (erro de destaque = crédito perdido).



10. Governança e controles


Com o novo modelo, as notas fiscais eletrônicas serão o coração da arrecadação.O IBS e a CBS serão apurados em tempo real, com possibilidade de split payment (pagamento automático do imposto no momento da liquidação).


Por isso, a empresa precisará de:


  • ERP e integração bancária atualizados;

  • Controle interno tipo SOX (logs e conciliação);

  • Dashboard de KPIs como:

    • Aproveitamento de crédito (%)

    • Notas rejeitadas (%)

    • ETR (Taxa Efetiva de Tributação) mensal.



11. Erros comuns a evitar


  1. Achar que “o Simples não muda” — muda, e muito.

  2. Ignorar a parametrização fiscal — sem sistema atualizado, o crédito se perde.

  3. Não capacitar o time — vendas e faturamento serão diretamente impactados.

  4. Não decidir — o pior cenário é não escolher entre “por dentro” ou “por fora” e acabar emitindo notas incorretas.

  5. Não acompanhar o PLP 108/2024 e a regulamentação complementar do Comitê Gestor do IBS (CG-IBS).



12. Plano de Ação 30–60–90 dias

Prazo

Ação

Responsável

30 dias

Diagnóstico e mapeamento de clientes/fornecedores

Contábil + Comercial

60 dias

Atualização de ERP e testes de NF-e com IBS/CBS

TI + Fiscal

90 dias

Treinamentos e políticas comerciais revisadas

RH + Diretoria


13. Conclusão


O Simples Nacional continua, mas não será o mesmo. A escolha entre “por dentro” e “por fora” determinará se sua empresa será um elo competitivo na nova cadeia do IBS/CBS ou se ficará à margem do crédito tributário.


O cenário muda em 2026.O tempo de preparar é agora — antes que as notas fiscais tragam surpresas, e o caixa sofra o impacto.



14. Fontes oficiais e técnicas


  • Receita Federal – Entenda a Reforma do Consumo (FAQ oficial)

  • Senado Federal – Cronograma IBS/CBS – EC 132/2023

  • Ministério da Fazenda – PLP 108/2024 (Comitê Gestor do IBS)

  • Lei Complementar nº 123/2006 (Simples Nacional)

  • Emenda Constitucional 132/2023



15) Minha opinião (objetiva, pró-empresa)


A melhor política para quem vende B2B será por fora — nota com IVA e crédito integral preservam competitividade. Para B2C puro, por dentro segue fazendo sentido pelo custo/benefício. O erro será não decidir: ficar no meio do caminho sem parametrizar sistema e sem treinar o time custará nota rejeitada, crédito perdido e margem derretendo em 2026/2027.



 
 
 

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