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CFOs de multinacionais: vocês realmente estão prontos para a Reforma Tributária de 2026?

  • Patrick Pelucio
  • 19 de out.
  • 4 min de leitura

Atualizado: 20 de out.

Por Patrick de Pelucio


reforma tributária para multinacioanais

Resumo executivo. O Brasil migra para um IVA dual em 2026: CBS (federal) e IBS (estadual/municipal), substituindo PIS/Cofins/ICMS/ISS — com NF-e/NFC-e adaptadas e novas validações obrigatórias. Na prática, muda como o imposto é calculado, coletado e auditado; a fatura eletrônica vira o coração do compliance. Para grupos internacionais, isso atravessa supply chain, pricing, fluxo de caixa, contratos intercompany e controles SOX.



1) O que vai mudar (e onde dói mais no grupo)


  • Modelo IVA (CBS/IBS) com crédito financeiro amplo e tendência a alíquota de referência única por tributo; foco em tributar o consumo no destino (princípio OCDE).

  • Governança e arrecadação do IBS por um Comitê Gestor (CG-IBS); o PLP 108/2024 já passou no Senado e voltou à Câmara. Implica nova camada de integrações e reconciliação de repasses.

  • E-invoicing como prova fiscal: NTs 2025 trouxeram campos de CBS/IBS/IS e cronograma; rejeições por falta de preenchimento correto passam a invalidar a nota em produção a partir de 5 jan 2026.


Minha leitura (não pró-governo): venderam “simplificação”, mas o custo de transição (ERP, cadastros, integrações e testes) fica no colo do contribuinte — especialmente de quem tem operações cross-border. Há ganho estrutural? Possível. Mas o risco operacional em 2026 é do contribuinte, não do Estado.


2) Benchmark internacional (para balizar o rollout)


  • Princípio do destino (OCDE): tributar onde ocorre o consumo; requer mapeamento apurado de place-of-supply e regras cross-border, com atenção a serviços e intangíveis.

  • Split payment (experiências UE): Itália usa em transações com setor público; a Polônia teve extensão autorizada até 2028. Estudos da Comissão Europeia mostram benefícios discutíveis e custos administrativos relevantes — alerta para impactos de cash management.


Tradução para o Brasil: ainda que o desenho final do split venha “diluído”, simule agora cenários de caixa com recolhimento “na veia” via NF-e e impactos no DSO/DPO.


3) Efeitos na cadeia global e no intercompany


  • Preço de transferência & TP-policy: a recuperação de créditos CBS/IBS e o “novo” débito podem alterar margens e tested parties; revise markup e incoterms (serviços importados, intangíveis e SaaS exigem trilha de place-of-supply). (Princípios OCDE).

  • Contracts e SLAs globais: inclua cláusulas de responsabilidade pelo imposto, ajustes por alíquota e gross-up.

  • Supply chain design: reavalie mix de plantas/centros de distribuição, triangulações e benefícios regionais; o IVA dual pode reduzir arbitragem de guerra fiscal, mas exceções setoriais persistem localmente.


4) Compliance e tecnologia (o “hard work” do CFO)


  • ERP e tax engines. Atualização para campos CBS/IBS, regras de cálculo e créditos; use ambiente de homologação para cenários críticos (bonificações, devoluções, remessas, consignações, marketplace, importações).

  • Master data. NCM, CFOP, CST, CNAE, regimes e vinculações fiscais por produto/cliente — qualquer ruído vira rejeição de nota e glosa de crédito.

  • Controles SOX & trilha de auditoria. O e-invoicing passa a comandar a apuração; alinhe conciliações FI/SD/MM (SAP) ou módulos equivalentes (D365/TOTVS/Oracle).


5) Roadmap de 90 dias para multinacionais


Governança


1) Instale um PMO tributário-tecnológico Brasil (Tax/Contábil/TI/SCM/Legal) reportando ao CFO LatAm/Global.

2) Defina KPIs de readiness: % cenários homologados, taxa de rejeição em testes, lead time de correção de master data.


Tecnologia e dados


3) Atualize ERP/Tax engine com NT 2025 e libere sandbox para CBS/IBS; automatize workflows de exceções.

4) Faça data cleanse (produtos/clientes/fornecedores) e trave governança de cadastros (role-based, four-eyes).


Operação e contratos


5) Revise contratos intercompany e SOWs com gross-up e split; simule impacto em cash pooling.

6) Mapeie benefícios setoriais/regionais remanescentes e crie matriz de elegibilidade (evitar “benefício de papel”).


People & controles


7) Treine Faturamento/Compras/SD/MM para novos campos; mande playbooks por cenário (devolução, amostra, brinde).

8) Implemente tax dashboards (erro de NF-e, aging de crédito, variações de alíquota) e close semanal tributário 2026Q1.



6) Estudo de caso (hipotético, inspirado em práticas OCDE/UE)


Grupo global de bens de consumo com 4 plantas no Brasil e 2 hubs no Mercosul.


  • Problema: crédito CBS “preso” e notas rejeitadas por NCM/CST divergentes; aumento de 18 dias no ciclo de faturamento.

  • Ação: PMO + saneamento de cadastros + tax engine com regras CBS/IBS + revisão de incoterms e split em contratos.

  • Resultado: rejeição de NF-e caiu de 6,2% para 0,4% em 8 semanas; cash impact neutralizado com renegociação de prazos e reprice de SKUs sensíveis.


7) Minha opinião (visão de empresário, crítica ao Estado)


O governo empurra uma transição cara e complexa ao setor privado sob o rótulo de “modernização”. Para multinacionais, isso significa refazer processos que já funcionam em VATs maduros. O custo de adequação (ERP, dados, contratos, treinamento) é real e não será reembolsado. Se há ganho, virá da sua disciplina operacional — não da benevolência estatal. Quem tratar a reforma como projeto estratégico (não contábil) vai atravessar 2026 com menos dor e mais controle.



8) Checklist rápido para o CFO global


  • PMO instalado e steering com HQ definido, ou seja organizar uma estrutura formal para gerenciar seus projetos, e que as decisões estratégicas sejam conduzidas por um comitê executivo oficial

  • ERP/Tax engine com NT 2025 e CBS/IBS habilitados, ou seja um sistema de gestão empresarial pronto e configurado para atender às novas exigências da Reforma Tributária Brasileira

  • Data cleanse: NCM/CFOP/CST/CNAE e vínculos por produto/cliente, ou seja auditoria e higienização dos dados fiscais para garantir a conformidade legal e a eficiência operacional da empresa.

  • Playbooks por cenário de venda/compra/devolução, ou seja guias detalhados e documentados que reúnem as estratégias, métodos, procedimentos e melhores práticas . 

  • Contratos IC revisados (gross-up, split, place-of-supply), ou seja uma análise e ajuste de cláusulas contratuais focadas em implicações fiscais

  • Dashboards de NF-e (erros), créditos e cash impact, ou seja um painel visual que centraliza e exibe, em tempo real, informações cruciais sobre a gestão fiscal da empresa, utilizando métricas e indicadores de desempenho (KPIs) para facilitar a análise e a tomada de decisões. 

  • Simulações de margem e repricing por SKU/canal, ou seja uso de ferramentas analíticas para prever a lucratividade e ajustar preços de produtos específicos em diferentes plataformas de venda



Resumo final:


A reforma tributária de 2026 muda completamente o jogo para multinacionais com operações no Brasil. O novo modelo dual de IBS e CBS exige sistemas integrados, cadastros limpos, contratos revisados e governança fiscal robusta — no mesmo nível de rigor exigido por matrizes globais. CFOs precisam tratar essa transição como um projeto estratégico, não contábil: envolve tecnologia, supply chain, compliance e cash management. No fim, quem se antecipar e alinhar contabilidade, TI e controladoria à nova estrutura tributária transformará a reforma em vantagem competitiva. Quem esperar pelo governo, pagará o preço da inércia.

 
 
 

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