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Do lucro contábil ao lucro fiscal: a diferença que separa a gestão eficiente da surpresa tributária

  • Patrick Pelucio
  • 21 de out.
  • 5 min de leitura

Atualizado: 7 de nov.



Gestor: você realmente sabe qual lucro está pagando imposto?

Se há um erro recorrente nas empresas brasileiras, é acreditar que lucro contábil e lucro fiscal são as mesmas coisas. Essa confusão — aparentemente técnica — é, na prática, um dos maiores riscos estratégicos para qualquer CFO ou empresário que queira ter previsibilidade sobre resultados, impostos e distribuição de dividendos.


Afinal, de que adianta a contabilidade mostrar lucro se, no fim do exercício, a empresa descobre que deve imposto sobre um resultado que não virou caixa?


E mais: como tomar decisões financeiras ou definir estratégias de reinvestimento se o planejamento contábil e o planejamento tributário não falam a mesma língua?



Entendendo o conceito: lucro contábil x lucro fiscal


O lucro contábil é aquele apresentado nas demonstrações financeiras — apurado conforme as normas do CPC (Comitê de Pronunciamentos Contábeis) e os princípios da contabilidade.Ele reflete a performance econômica do negócio, considerando receitas, despesas, provisões, depreciações, reavaliações e estimativas.


Já o lucro fiscal é o resultado ajustado segundo as regras da legislação tributária — especialmente o Regulamento do Imposto de Renda (RIR/2018) e as normas específicas de IRPJ e CSLL.


Em outras palavras:


O lucro contábil mostra o desempenho do negócio. O lucro fiscal mostra quanto o governo acha que você deve pagar.

A diferença entre eles é ajustada no Livro de Apuração do Lucro Real (LALUR) — ou no LACS, para empresas no Lucro Presumido ou Simples, quando aplicável.



Por que as diferenças existem


As divergências entre o lucro contábil e o lucro fiscal nascem de três fatores principais:


  1. Critérios diferentes de reconhecimento de receitas e despesas

    • A contabilidade segue o regime de competência, reconhecendo receita e despesa quando ocorrem.

    • O fisco, por sua vez, impõe limites e exceções: algumas despesas não são dedutíveis, e certas receitas podem ser tributadas antes mesmo do recebimento.


  2. Provisões e estimativas contábeis que o fisco não aceita

    • Provisões trabalhistas, contingências, depreciações aceleradas, ajustes de valor justo — tudo isso é válido na contabilidade, mas precisa ser adicionado de volta para fins fiscais.

    • Resultado: o lucro contábil diminui, mas o lucro fiscal aumenta — e o imposto também.


  3. Incentivos e adições fiscais específicas

    • Juros sobre capital próprio, incentivos de inovação (Lei do Bem), créditos de ICMS/PIS/Cofins, entre outros.

    • Cada benefício fiscal altera o lucro tributável, exigindo acompanhamento técnico e memória de cálculo detalhada.




Tributos diferidos: o ponto cego de muitos CFOs


O conceito de tributo diferido é um dos mais ignorados nas empresas que terceirizam a contabilidade.Ele representa impostos que serão pagos ou recuperados no futuro, em razão das diferenças temporárias entre o resultado contábil e o fiscal.


Exemplo:


  • Sua contabilidade registra uma despesa de provisão trabalhista agora, mas o fisco só permitirá deduzir quando o pagamento ocorrer.

  • Isso gera um ativo fiscal diferido (um crédito futuro).

  • Se, ao contrário, há uma receita contábil que será tributada só mais tarde, isso gera um passivo diferido.


Esses valores devem aparecer no balanço patrimonial, mas a verdade é que poucos empresários sabem se isso está sendo controlado corretamente. E o pior: muitos escritórios de contabilidade nem registram corretamente tributos diferidos, criando uma distorção entre o lucro apresentado e o imposto efetivo a pagar.



Impactos práticos para o CFO e para a tomada de decisão


Entender essa diferença não é um detalhe técnico — é uma questão de gestão e sobrevivência.


Quando o CFO ou o empresário não domina a ponte entre lucro contábil e lucro fiscal, surgem efeitos perigosos:


  • Pagamentos indevidos de IRPJ e CSLL por falta de ajuste no LALUR;

  • Risco de autuação por adições ou exclusões incorretas;

  • Distorção no fluxo de caixa — a empresa acredita que tem lucro, mas o caixa está negativo;

  • Distribuição indevida de lucros sem base fiscal válida, que pode ser tributada como pró-labore;

  • Perda de credibilidade em auditorias, financiamentos e due diligences.



Em resumo: a contabilidade mostra o “filme do negócio”, mas o fisco tributa apenas alguns frames — e, se você não sabe quais, o final da história pode ser trágico.



O erro clássico: terceirizar sem entender


Muitas empresas — especialmente médias e em crescimento — terceirizam a contabilidade e acreditam que o contador cuidará de tudo.Mas a realidade é que boa parte dos escritórios trabalha apenas com rotinas operacionais, não com análise gerencial.


Eles entregam as obrigações, mas não traduzem os números para o gestor.E aí o empresário olha o balanço, vê lucro, distribui resultado — e depois descobre que há imposto a pagar sobre algo que nunca entrou no caixa.


Se o seu contador nunca te explicou a diferença entre lucro contábil e lucro fiscal, você não tem uma contabilidade estratégica — tem apenas um emissor de guias.



Minha opinião


Como empresário, vejo esse tema com a mesma preocupação que vejo a reforma tributária: a falta de preparo técnico de quem deveria orientar o empresário.


O governo cria um sistema cada vez mais complexo, e o contador tradicional continua operando no modo automático — sem conectar o que acontece na contabilidade com o que ocorre na tributação.Isso é perigoso.


Enquanto o Estado aperta o cerco e busca mais arrecadação, o empresário precisa de inteligência contábil, não de despachantes.É preciso entender como cada linha do DRE afeta o imposto, o caixa e o resultado distribuível.Sem essa visão, não há planejamento tributário possível — há apenas reação a problemas.




Conclusão: o lucro fiscal é a verdade que o governo cobra - e o lucro contábil é a história que você conta


O verdadeiro CFO é aquele que entende as duas linguagens: a contábil e a tributária.Ele sabe que o balanço é o retrato econômico do negócio, mas o LALUR é o espelho fiscal que define quanto dinheiro sairá da conta.


Portanto, pergunte-se hoje:


“Eu sei qual é a diferença entre o lucro que o meu contador mostra e o lucro sobre o qual o governo me cobra imposto?”

Se a resposta for “não”, está na hora de aprofundar o controle fiscal e exigir clareza técnica da sua contabilidade.Porque, no fim das contas, quem paga o preço do erro não é o contador — é você.



Por Patrick de Pelucio



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